Ontens

Ontem sonhei com uma história onde tudo acontecia. O amor era pleno, a estrada vermelha e um pássaro voava no céu. O amor voou de longe, veio montado em pássaro, ele próprio meio pássaro meio gente. Pintou a cara com urucum maduro, comeu queijo, bebeu cachaça. Dormiu no chão e acordou com marca de raiz cravada nas costas. Bebeu vinho e despertou pela madrugada pra fitar o ceu que tinha mais estrela que céu. Encontrou velhinha na rua, comeu comida dela, quis ouvir história, tirou fotografia. Todo dia espantava boi na porteira e sempre de manhã brincava com uma cadelinha pra quem deu o nome de Fusquinha. O amor chorou também e também tomou banho de chuveiro quente. O amor aprendeu outra língua e saía falando com tudo pelo caminho: com mato queimado, como o cara-cará, com os peixinhos. O amor tomou banho de cachoeira e ficou resfriado. A água estava muito fria e era junho. O amor tomou chá de limão com alho, melhorou da gripe, subiu no pássaro e foi embora. Dizem que ele anda lá pelas bandas de Santa Cruz de la Sierra falando com velhinhos, pintando a cara e pitando um cigarrinho.

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