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Mostrando postagens de 2011
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Ciber life Sempre que posso invado sua vida. Pelo menos aquela publicamente mostrada. Aquela que todo mundo pode ver. Queria eu invadir a outra que é só sua. Vc no banheiro tomando banho, vc dormindo roncando, você comendo, vc lendo um livro, você sorrindo de verdade, sua voz aguda, estridente, suas palavras desconexas, seu sonho de ser. Seu sofrer. Será teatro? Puro charme ou angustia da vida jovem, amadurecendo. Árvores verdes e flores lilazes me lembram. Tronco caído na trilha com musgos verdes nascendo neles. Som de batida de bico na árvore, pipa no céu, fotografia de moradores de rua tiradas do alto do prédio do centro de São Paulo. Zoom 23X. Sexo na cama de casal alheia, cama molhada. Dedos das mãos entrelaçados durante a noite. Paul Klint. Coincidências. S. Carlos, novembro/2011
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Doar Na água doada em uma jarra, perdura a fonte. Na fonte perdura todo conjunto de pedras e todo adormecimento obscuro da terra. A terra recebeu chuva e orvalho do céu. Na água da fonte, perduram as núpcias de céu e terra. As núpcias perduram no vinho que a fruta da vinha concede e no qual a força alimentadora da terra e o sol do céu se confiam um ao outro. Na doação da água, na doação do vinho perduram, cada vez, céu e terra. Na vig ência da jarra, perduram céu e terra Na doação da água vivem, cada qual a seu modo, em conjunto a terra e o céu, os mortais e os imortais A jarra aproxima, despercebidamente, coisas muito distantes (fragmentos entrecortados e adaptados do texto A Coisa , de Martin Heidegger. Outubro/2011)
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A ponte A ponte não apenas liga as margens. É somente na travessia que a as margens surgem como margens. A ponte cria. Ele deixa cada coisa separada e unida ao mesmo tempo. A ponte traz. A ponte coloca. A ponte reúne. A ponte conduz. A ponte permite ao mesmo tempo em que preserva. A ponte dá passagem. A ponte leva. A ponte transporta. A ponte se estende. A ponte conduz a caminhos hesitantes e apressados. A ponte cumpre uma reunião integradora. Na ponte o divino está sempre vigorando. A seu modo, a ponte reúne, integrando a terra e o céu, os divinos e os mortais junto a si. (fragmentos entrecortados do texto Construir, habitar, pensar de Martin Heidegger. Numa concepção heideggeriana, tais fragmentos, transformados agora em poesia, dada minha intenção (e ação) em tranforma-los num poema, já é um outro lugar. Seria este, então, um poema meu? São Carlos. Outubro/2011)
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Congadeiros do Marinheiro Obrigada, tambores, por este dia De couro, baquetas, cânticos graves e agudos, Lindas negras a balançar seus quadris Trupés em lindo balé sapateado Estridente balançar das patangomas. Senhora imponente com seu cajado a lembrar o orixá velho Insenso de Oxalá pai velho e eterno Num corpo que ainda não sabe decifrar sentidos e sentimentos. Terno eterno, És puro o som do céu e a voz azul do ar. Como a mais pura e bela das experiências que nos atravessa, És hoje parte de mim ALESSANDRA GOMES Outubro/2011
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TRANSITAR (com Jorge Larrosa) Parar para olhar, para escutar, para pensar Pensar mais devagar Olhar mais devagar Escutar mais devagar Parar para sentir Sentir mais devagar Demorar-se nos detalhes Suspender a opinião, o juízo, a vontade, o automatismo da ação Cultivar a atenção e a delicadeza Abrir os olhos e os ouvidos Falar sobre o que nos acontece Aprender a lentidão Escutar aos outros Cultivar a arte do encontro Calar muito Ter paciência Dar-se tempo e espaço. (agosto/2011)
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O RINOCERONTE O rinoceronte passou por mim Ele assoprou meu rosto Me fez ver o que não queria O espelho de mim “Eu sou isso?” Foi preciso perder para ganhar. Eu ganhei a perda e ganhei um pouco mais de mim. Ganhei um saber sobre mim, mesmo que um saber embrionário, um saber se descobrindo saber, um saber confuso, mas de alguma forma, um saber. O rinoceronte se chocou com minha mediocridade. A mediocridade de estar apenas em mim, quando eu sou poli. O rinoceronte pisou nas regras que eu mesma impus à mim. O rinoceronte se proliferou em mim (Alessandra Gomes. maio/2011)
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POEMA PRA BRINCAR Abril/2011
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ORATÓRIO Gosto quando me pegas sem hora marcada Sem pudor Quando sobre meu corpo, seu oratório, Confessas tuas imoralidades E rezas tua oração profana São Carlos, 6 de Abril de 2011
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VOLÚPIA Volúpia : Raro encontro com um corpo que a sente como pede Tensão erótica que ignora a sanidade (São Carlos, abril/2011)
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CONTRATO Fica posto que a partir desse abril nosso amor vai ser feito de pequenas revoltas diárias ao amor imposto CADA DIA Ele vai absorver os modelos para dar-lhes vida própria poesia CADA MANHA Agregará o novo e o velho o tradicional e o inovador o puro e o imoral CADA MADRUGADA Ele residirá num livro numa música paisagem POESIA Assim, o encontraremos em cada coisa que nos rodeia absorve compõe ALIVIA (São Carlos, abril de 2011)
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Apenas tu, Dionísio, é que recusas Ariana suspensa nas tuas águas. (Hilda Hist) São Carlos, maio/2011
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FUTURAR Caro querido, Chegaste inaugurando uma nova estação. Cores novas se anunciam, folhas caídas no chão pétalas de flores pequenos insetos coloridos. A natureza se revela em simplicidade Harmonia Fúria Caro querido, chegaste anunciando sonhos, sentimentos adormecidos. Chegaste anunciando palavras. Chegaste declarando um novo dia de sol. Saíste de sonhos adormecidos, de promessas jamais cumpridas. Caro querido, já vou antevendo nosso futuro colorido cama desfeita café na chaleira criança correndo. Já vou antevendo a vida correndo, a terra corando, o dia nascendo na noite sem fim. (São Carlos, abril/2011)
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A ponte Ontem, ao ver uma manada de bois num filme de referência à Guimarães Rosa, lembrei de você. Mas porque me lembrei de você, ao ver uma boiada? Na verdade, Ao ver a boiada minha memória foi ativada para as imagens das cenas dos bois que eram vendidos embaixo da ponte que atravessa aquele rio. Bois, ponte, você. As imagens eram iscas para a memória. As imagens pescando a memória A memória morde a isca e, incorporando-a, vira imagem. Os bois eram a desculpa para lembrar-me de você que estava ali, guardado, esperando para ser lembrado. Você estava ali o tempo todo. Os bois foram te resgatar. Ao pensar na imagem dos bois, cavalos e jegues que eram vendidos ao sábado (imagem que eu gostava tanto, porque me transportavam pra algum lugar imaginado, vivido em histórias de livros ou em minha vida mesmo, lugar cheio de boiadeiros, sertanejos, cavaleiros com seus casacos e chapéus de couro) pensei fugazmente que não poderia mais andar pelas ruas daquela cidade se não fosse em sua companhia.
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SAMAÚMA Na Levada um dia te descobri Dionísio. Na Levada te reconheci Samaúma. Samaúma, Titicaca, Tocantizinho. Pela grandeza, demoram pra sair de dentro da gente. No escuro do sonho, no colorido do sonho no emaranhado do sono, reinam. À você, minha Samaúma, Meu Titicaca, Meu Tocantizinho, dedico este poema. (Bahia, dezembro de 2010)