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Mostrando postagens de agosto, 2008
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As flores e a Náusea Um dia cheguei num campo repleto de flores, Mas a náusea estava por toda a parte Havia alegria e esperança em mim As flores me alegravam Me enfeitavam Me animavam Mas a náusea e seu cheiro eram tão fortes que fui me curvando, me desanimando, me embriagando Eu que antes era nuvem, árvore, pássaro Fui virando coisa indefinida, maltratada por minhas dores, coisa cansada, inanimada As flores continuavam lá Alegres Vivas Como conseguiam sobreviver? Eram tão frágeis Mas como eram fortes Eram mais fortes que tudo Suportavam a dor, a fome, a doença Mesmo em face do maior descuido: sobreviviam As vezes eu ia lá e regava As vezes eu ia lá e pisava Eu chorava de alegria e dor Eu me arrependia Eu me retratava com carinhos às flores E elas sempre estavam lá Sorrindo pra mim Eu percebia que se eu regava elas tornavam-se cada vez mais belas e vivas e prestimosas Mas quando eu descuidava e as esquecia elas murchavam, elas se tornavam más Gritei palavras de ordem Protestei
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Esquizofrenia Pessoas que se olham torto Caras desfiguradas em alguns diálogos Risos nervosos Animosidade dissimulada em cordialidade Um enfermeiro trás morfina para Atenuar a dor e comportamentos indesejáveis Uns sobem numa pequena ágora do pátio Onde tomam banho de sol E fazem discursos que pregam ao mesmo tempo A competição e a democracia A democracia da competição Sua condição de alienados os permite Transformar conceitos nobres em nome da “nobreza” dos interesses individuais Uns brincam no outro canto do pátio de educar E jogam educandos contra educadores Outros, brincando de mestres, preferem cultivar discípulos Uns, talvez pelo efeito da morfina e outros medicamentos são apáticos silenciosos Posicionam-se apenas quando se sentem por demais acuados Ou por pura conveniência Numas das paredes do pátio Há a seguinte descrição: 'Devo seguir até o enjôo? Esse sanatório causa-me náuseas... Devo sem armas, revoltar-me?" Alguns loucos gritam palavras de ordem: “Não à hipocrisia!
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O nascimento de uma flor Em algum lugar deste país Deste mundo. As flores brotam da náusea Onde a casa é rude, a rua é rude, a fome é rude Nasce a flor. Como pode a flor nascer da náusea? Como pode a flor brotar do asfalto? Do asfalto que e estala e queima Do esfalto que escorre tinta vermelha De asfalto acre Do asfalto que enjoa Do asfalto que esconde a verdade A justiça A flor está escondida Está escondida no caos Está escondida em Deus Está escondida na madeira Está escondida no tijolo que não está escondido Está escondida no choro Está escondida A náusea brota da flor Flores de todas as cores e cheiros Flores delicadas e confusas Flores negras, brancas, rosadas, amarelas As flores são delicadas e medrosas A náusea emudece a flor Entristece a flor Mutila a flor Enrijece a flor Como pode, meu deus, a náusea brotar da flor? Como pode, A flor que é a esperança Que é vida Que é sinceridade Que é emoção Ser sistematicamente esmagada pela náusea? Encarcerada pela náusea Controlada pela ná
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Fragmentos de uma noite Seu corpo ainda pulsa dentro do meu. Pedaços do corpo: língua, dedos, pênis, dente. Matéria. Saliva, cheiros, urros, ais. Sentidos. Corpos que se esbarram, se tocam, se esfregam. Se interpenetram até o clímax, até o ponto máximo do êxtase. Até que tudo se inunde de líquido, gozo, palavras. Sentidos. Sinto você dentro de mim em matéria sensações cores e odores. (Alessandra Gomes)
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Feitiço ou O dia em que Dionísio conquistou a fada da montanha “Eram duas cidades encantadas Uma de frente para outra O que as separava era um rio de águas escuras O que as unia era uma linda ponte metálica Que a noite era enfeitada pelas aranhas artistas daquele lugar. Naquela noite andava eu sujeita a feitiços Primeiro foi um gnomo que escrevia palavras bonitas e dizia palavras de ordem. Como gosto de palavras, enfeiticei-me. Enfeitiçada que estava, não vi que Dionísio me observava. No lugar havia arte, batuque, mulheres com turbantes Mulheres sensuais que dançavam. A noite era de feitiço. Na magia que estava, fui enfeitiçada por outro ser. Medusa me encantou. E eu, pequena fada faceira, destemida e corajosa, mas solitária e romântica, caí em seus encantos. Dionísio com calma , prudência e serenidade Esperou a sua hora. Sabia – tinha a sabedoria de seus ancestrais – que ela chegaria. Um dia Dionísio me chamou para um passeio na mata Conhecia a mata como ninguém. Falou das
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EU-FEMISMO   Quando você vai embora eu chovo.  Garoa fina que dói o rosto.  Que deixa tudo cinza.  Úmido. Tempestade que tudo devasta, carrega casas, carros, pessoas.  Mas que deixa o solo fértil.  No meio dos escombros nascem flores e pequenos animais.  Como a lava do vulcão que, ao passar, queima tudo: árvores, casas, animais, pessoas. Eu, você.  A vida brotando da destruição.  As antíteses, os antônimos.  As figuras de linguagem.  Quando você chega amanheço.  Eu, aurora.
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Mafê me escreveu num momento de acalanto... "DESACONTECEU uma lágrima do meu olho, fugitiva, inesperada uma lágrima solidão por hora... Rasguei ela em mil pedaços de água e seu sal rebento, um lustroso aconteceu no meu olhar descontrolado, uma solitude bem resolvida e esse poema sobre a lágrima e seu molhado miltidezeres. Seu molhado estar só-por-hora, estar um, então tudo o é inteiro, assim, até a lágrima." Mafê M. 28/07/08

EXISTIR

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"é preciso fazer da existência uma obra de arte: inventar novas formas de entendimento de si próprio para conseguir transformar-se."

Paladares

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Há uma gota de saliva em cada poema