Feitiço
ou
O dia em que Dionísio conquistou a fada da montanha
“Eram duas cidades encantadas
Uma de frente para outra

O que as separava era um rio de águas escuras
O que as unia era uma linda ponte metálica
Que a noite era enfeitada pelas aranhas artistas daquele lugar.

Naquela noite andava eu sujeita a feitiços
Primeiro foi um gnomo que escrevia palavras bonitas
e dizia palavras de ordem.
Como gosto de palavras, enfeiticei-me.

Enfeitiçada que estava, não vi que Dionísio me observava.

No lugar havia arte, batuque, mulheres com turbantes
Mulheres sensuais que dançavam.

A noite era de feitiço.

Na magia que estava, fui enfeitiçada por outro ser.
Medusa me encantou.

E eu, pequena fada faceira, destemida e corajosa,
mas solitária e romântica, caí em seus encantos.

Dionísio com calma , prudência e serenidade
Esperou a sua hora. Sabia – tinha a sabedoria de seus ancestrais –
que ela chegaria.

Um dia Dionísio me chamou para um passeio na mata
Conhecia a mata como ninguém.
Falou das montanhas
Dos pequenos insetos
Dos pássaros
Contou histórias
Falou da água e de seus ancestrais.
Seu encanto era lento.
Ao final do dia eu não nadava
Eu flutuava como pétala de flor na água.
Eu era delicada como a libélula roxa
em cima da flor.

De repente o encanto se transformou em homem
E me tomou nos braços como só um homem pode tomar.
Ali permanecemos e entardecemos.
A noite derramou sobre nós suas primeiras gotículas negras.
Deitados, metamorfoseamo-nos nas pedras.
Éramos liquens, musgo.
A cada instante éramos um.
Um.
Apenas um.”
(Alessandra Gomes)

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