O sol brilhava no céu e tingia de ainda mais azul o lindo mar de águas calmas e mornas. Na boca, um gosto de cacau, biri-biri e siriguela. A cachaça esquentava o corpo e também a alma. O açúcar da jujuba mágica ressoava no corpo... A lente da câmera não conseguia captar o real. A realidade era tão grande que rebentava a imagem: tons de azuis, água prateada, movimentos sincronizados das ondulações da água, voos de pássaros, árvores sob as águas, o leve dançar das palmeiras, tons rosados na água a espelhar o sol, aves espalhadas no chão prontas para alçar voo... Ela – real e imaginária – também rebentou. Sentiu seu corpo nu na água em conexão com todos os elementos presentes. Sentiu-se um pouco peixe, um pouco pássaro, um pouco ser erótico do mar, um pouco mais gente. Talvez seja preciso estar assim para sentir-se mais humana e para desfrutar de uma alegria também animal, natural e instintiva. Sentiu medo também. O mar era muito grande e a maré estava vazando. Foi tomada por um medo do inexplicável: a outra parte do ser gente. Ao seu lado um outro corpo, um corpo masculino, um corpo real, um corpo como apenas um corpo pode ser... Um corpo também em busca, um corpo quente e liso, um corpo amável: boca, olhos, nuca, mãos, mente... Um corpo-peixe. A noite chegou e com ela o céu salpicado de estrelas a perder de vista. Sensação de gozo.

Ambos partiram ao encontro com descendentes dos ancestrais vindos de África.
E depois, apenas silêncio e mais silêncio.
Pulsar da respiração.

Ao final, ambos seguiram.
Ela: mulher-pássaro; ele: homem-peixe.
O que os unia também os afastava: água morna, samambaias, bifurcações, ranhuras, abismos
e estradas-sem-fim...

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