RECREIO
Brasil. Século XXI. Rio de Janeiro. Mais precisamente Vidigal. Gritaria, corre-corre. Em uma escola pública cravada nas rochas de frente para o mar, crianças de todos os tipos físicos, tamanho, tons de pele, idade, tipos e estilos de cabelo, fazem a mesma coisa: brincam. Pega-pega, esconde-esconde, menina pega menino, futebol, maquiagem, comidinha: sanduiche em folha de árvore recheado com areia, uma espécie de ginástica-alongamento nos corrimãos que ficam de frente pra o mar, meninos deitados no chão conversando e olhando pro céu, amigas andando de mão dadas. Apenas duas meninas estão sentadas juntas olhando o celular. Dizem que as brincadeiras são mais antigas que as crianças e que elas já existiam antes mesmo de inventarem as crianças. E que antes todos brincavam: pula-sela, barra-manteiga, mão na mula, esconde-esconde, cadeirinha, mãe da rua, passa anel, telefone sem fio, cobra-cega...
Século XXI. Em algum lugar do mundo crianças andam muito ocupadas brincando. Disseram lá pelas bandas da França em 1700 e alguma coisa que provavelmente nunca mais andariam tão ocupadas em toda sua vida. Ocupadas e retrógradas. Retrógradas e distraídas. Retrogradamente distraídas na ocupação de parar o tempo e transformar os 20 minutos do recreio em pequenas eternidades.


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