POEMA PRA BAHIA

Um dia me foi imperativo conhecer a Bahia.
Me lancei naquelas imagens que,
sobretudo por meio das músicas,
desde a infância
povoaram meu imaginário:

A triste Bahia tão dessemelhante triste
A roda gigante da Ribeira de Juliana, João e José,
A tarde em Itapuã
A logoa escura do Abaeté
O campo Grande ê!

O encontro com cada uma das imagens,
Tão abstratas e fantasiosas durante toda minha vida,
Foi cheio de ternura e encantamento.

Depois vieram outras melodias
Que de palavras vazias
passaram a ter um profundo significado para mim:

O Vapor de Cachoeira
Rua da Matriz, do Conde
Rio Apolo e rio Suabé
Bandeira branca enfiada em pau forte

Quando pisei pela primeira vez no Pelourinho
Senti um misto de emoção e dor
Sentimentos inexplicáveis,
mas algo me dizia
Que eu era parte daquilo
E que aquilo me pertencia

Sensação parecida senti
quando participei da primeira festa de candomblé em Cachoeira
as músicas
as danças
os cheiros
as roupas
tudo me remetia a sensações intensas e jamais sentidas

Drummond diz que na Bahia os nomes brincam de nos chamar
Ora doces, ora enérgicos
Eu acho que eles brincam com nossos afetos e,
em consequencia, com nossa imaginação

Mesclam palavras e significados.
Pau Miúdo
Cruz das Almas
Amargosa
Mata das Covas
Rosarinho
Cachoeira
Santo Amaro da Purificação
Tucano

Aos poucos fui me acostumando com seus odores e sabores
Sentia uma imensa saudade
Da maniçoba
Do pirão de aipim com carne de sol
Do siri catado com farinha e pimenta
Do acarajé de Nega

O Recôncavo
Moço esguio, lânguido, da pela lisa
Engraçado, briguento, corajoso
Comunicativo, forte e teimoso (ah... se não fossem teimosos)
Passou a ser um amante inesquecível

Deita-se comigo ao entardecer, na aurora, nos dias quentes e úmidos
Me envolve em seus braços amorosos
Me enche de cheiros
Me ilumina e fertiliza

(Alessandra Gomes)

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